sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

TARDE DEMAIS - Parte III


 
Mais uma oportunidade, talvez a última. Estavam ali, conversando. Não conseguiam abrir mão do passado e seguir em frente sem nenhum tipo de culpa. Como sempre, estavam sorrindo juntos. Então, ele aproveitou:
- Você sabe que seria feliz comigo, não é?
- Quem disse a você que eu não sou feliz? - Seu sorriso deu lugar a uma expressão tensa.
- Você ia conhecer a verdadeira felicidade se estivesse comigo. - Ele firmou o seu olhar nos olhos dela.
- O quanto você gosta de mim? - Ela se arrependeu no exato momento em que disse. Mas já estava feito. Desviou o seu olhar, tentou disfarçar.
- Pergunta difícil! Se disser que lhe amo, estarei mentindo. Mas não posso dizer que não sinto nada. Você é especial pra mim. Já disse que não entendo.
- Você é especial pra mim também. - Ela voltou seu olhar a ele. Ficou claro que oportunidades tinham sido perdidas. - Poderíamos entender isso se tivéssemos aproveitado nossa chance. E agora é tarde demais.
- É tarde demais pra muitas coisas. - Doía muito concordar, mas era a verdade.
O silencio apossou-se daquele momento. Tentaram se olhar, porém o medo de que tudo se perdesse não permitiu qualquer contato entre eles.
- Vou embora antes que essa conversa tome o rumo que eu não quero. - Disse ela com firmeza.
- Do que você tem medo? - Já tinham ido longe demais. Ele não queria que, uma vez mais, o laço entre eles fosse quebrado.
- Tenho medo do passado. - Ela estava quase brava e gritando. - Tenho medo do passado, das vontades, dos sentimentos sem explicação. - A confusão e irritação estavam bem definidas no seu olhar e voz. - Eu estou bem. Não quero mudar o meu presente. Não quero mudar o que sinto. Talvez eu estivesse melhor com você, mas eu quero estar bem com a pessoa que eu tenho hoje. - Ela parou e deu um sorriso, quase uma gargalhada de tão nervosa. - Percebe? Eu até considero a ideia de ter um presente contigo. Você me ilude. Não sei como faz isso, mas consegue! - Ela estava realmente irritada. Ele só conseguia olhar pra ela, em silêncio. Estava surpreso. Não esperava tal reação. Ela sempre se acovardava e recuava, mas agora não, ela estava o enfrentando. - Se eu não amei você, faltou pouco pra isso. E eu não quero descobrir como seria. Aliás, nem sei porque estou lhe dizendo isso. Esse é o rumo que eu não queria.
- Inevitável. Cedo ou tarde falaríamos sobre isso. - Ela discordou com a cabeça. - Saiba que eu não menti pra você. Todos aqueles dias foram verdadeiros. Nunca me apaixonei, mas amava a ideia de que te veria no dia seguinte e no outro, no outro... Gostava mesmo de ter você por perto. Nossa felicidade juntos ficou no passado, infelizmente. Não posso te dizer como será o nosso futuro, todavia agradeço por ter vivido um tempo do passado contigo.
- Não entendo esse drama todo, afinal foram muitos sorrisos e abraços com poucos beijinhos inocentes.
- Número de beijinhos não confirmado. - Ele sorriu.
- Sentimento não confirmado. - Se entreolharam e souberam que nada mais havia pra ser dito. - Ok, não importa mais. O que tínhamos pra viver, já passou. Talvez nunca consigamos definir alguns sentimentos. Quem se importa?
- Responda-me: você pensou em me dizer algo na época?
- Não, claro que não. Nunca gostei de você o bastante para dizer qualquer coisa. Não tinha o que nem porque falar.
- Você queria que eu me aproximasse?
- Não sei. É que você só me procura quando eu estou envolvida com outra pessoa. Acho que você gosta de me confundir. E, se for essa a sua intenção, você consegue. Mais alguma pergunta?
- Acho que não.
- Porque não me beijou naquele dia?
Ele olhou pra ela e permitiu que seus pensamentos o conduzissem pra aquele momento que criou tantas dúvidas e que tanto os incomodava.
- Não sei. Eu te segurei, encostei-me na parede. Estava tudo perfeito: a garota perfeita, o lugar e momento perfeitos. Então você encostou seus lábios nos meus e eu sabia que esperava algo mais. Esperava uma atitude minha. Mas, quando decidi fazer algo, você encostou suas mãos no meu peito e se afastou.
- Você me deixou ir.
- Até hoje não consigo explicar porque isso aconteceu. Eu deveria ter te beijado. Talvez, se eu tivesse atitude, tudo seria diferente, não seríamos cheios de frustrações e perguntas.
- Foi melhor assim. - Ela queria fugir. Não aguentava mais escancarar suas emoções pra ele. - Talvez você tenha feito a coisa certa. - Deu-lhe um beijo no rosto para despedir-se. - Tenta não desaparecer de novo. Sinto sua falta às vezes.
- Talvez eu suma.
- Por quê? Disse algo que te chateou?
- De forma alguma. - Ele estava confuso. - Só acho que já ouvi demais. É informação demais pra mim. Preciso de um tempo. É só meu jeito bobo.
- Estarei aqui quando você resolver aparecer. Até mais.
Abraçaram-se e seguiram seus caminhos.
Tantas palavras. Tantas lembranças e revelações. E nenhuma melhoria. Além de alguns desejos e decepções expostas, tudo estava igual antes. E, talvez, tenha sido melhor assim.


By: Laine Novaes

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